sábado, 9 de outubro de 2010

A organização do ensino: a escola como espaço de ações e interações

O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca. (FREIRE, 1996, p.73)

Sabemos que o ser humano é social por natureza; desde que nascemos, fazemos parte e formamos grupos com pessoas. A constituição do processo de humanização só ocorre quando participamos do convívio com outros seres humanos. A história das “meninas lobos”, um fato verídico ocorrido na Índia, exemplifica bem essa afirmação. Ao conviverem só com os lobos, não tiveram oportunidade de se humanizar, permaneceram como os animais irracionais. Não possuíam nenhuma das características humanas: não choravam, não riam e, sobretudo, não falavam.
Leite (1997, p. 301), um pioneiro da Psicologia Social do Brasil, nos deixou importantes contribuições acerca da influência das relações interpessoais na educação. Para ele, o educador precisa conhecer o seu significado, mediante seu papel na nossa formação como indivíduos, que depende de relações interpessoais.
É importante pensar a educação como um processo de formação que pode preparar adequadamente os indivíduos para as relações interpessoais, uma vez que a educação para o “mundo humano” se dá num processo de interação constante, em que podemos nos ver através dos outros e também ver os outros através de nós mesmos. E aqui vale reforçar um pensamento, o de que o “[...] indivíduo criado em condições harmoniosas tende a estabelecer relações harmoniosas”. (LEITE, 1997, p. 311)
Ultimamente, muito se tem falado da influência da dimensão afetiva no comportamento humano. Destacam-se no campo das pesquisas, estudos que evidenciam o papel determinante do outro no desenvolvimento e na constituição do indivíduo.
Autores, como Henri Wallon e Vygotsky, sinalizam importantes aspectos nesse sentido. Para eles, a afetividade e as emoções compartilham significativamente com o processo de ensino e aprendizagem.
Nos estudos apresentados por Henri Wallon, a dimensão afetiva é destacada de forma expressiva na construção da pessoa e do conhecimento, pois, para ele, a afetividade e a inteligência estão sempre integradas, uma vez que a evolução da afetividade depende das construções realizadas no plano da inteligência, bem como a evolução da inteligência depende das construções afetivas. Assim, ao estabelecer as relações existentes entre o sistema afetivo e o cognitivo, Wallon tinha em mente a intenção de demonstrar sua preocupação com o desenvolvimento da criança como um ser total, isto é, o desenvolvimento não só de sua racionalidade, como também o desenvolvimento e construção de sua personalidade.
Segundo Leite e Tassoni (2002, p. 117), Wallon, em seus estudos, estabelece uma diferença entre emoção e afetividade, conforme aponta a ilustração, a seguir:

EMOÇÕES: São manifestações de estados subjetivos, mas com componentes orgânicos. Contrações musculares ou viscerais, por exemplo, são sentidas e comunicadas através do choro, significando fome ou algum desconforto.Toda alteração emocional provoca flutuações de tônus muscular, tanto de vísceras como da musculatura superficial.

AFETIVIDADE: Tem uma concepção mais ampla, envolvendo uma gama maior de manifestações, englobando: SENTIMENTOS EMOÇÕES (origem psicológica) (origem biológica) A afetividade corresponde a um período mais tardio na evolução da criança, quando surgem os elementos simbólicos.
Assim, nos dizeres de Wallon, fica claro que a emoção é o primeiro e mais forte vínculo entre os indivíduos. Por isso, é fundamental que o professor, em sala de aula, observe o gesto, a mímica, o olhar e a expressão facial dos seus alunos, pois esses comportamentos são constitutivos da atividade emocional. Nesse sentido, podemos afirmar que o olhar do professor para o seu aluno é indispensável para a construção e o sucesso da sua aprendizagem. Isto inclui dar credibilidade às suas opiniões, valorizar sugestões, observar, acompanhar seu desenvolvimento e demonstrar interesse pelo que o aluno diz e realiza.
Coutinho e Moreira (1992, p. 164) acrescem que, para Wallon: As relações do indivíduo no grupo são, por isso mesmo, importante não só para aprendizagem social, mas fundamentalmente para a tomada de consciência de sua própria personalidade. A confrontação com os companheiros permite-lhes constatar que é um entre outros e que, ao mesmo tempo, é igual e diferente deles. Enfim, a vida afetiva e intelectual supõe, efetivamente, a vida social.”
Em síntese, podemos ver que a afetividade está presente nas principais decisões de ensino, assumidas pelo professor, desde a escolha dos objetivos de ensino até o processo de avaliação da aprendizagem.
A expressão verbal, o planejamento da aula, o capricho na confecção de materiais para serem apresentados, a partir de recursos audiovisuais, a escolha dos instrumentos de avaliação e, até mesmo, a forma como corrigimos uma prova podem evidenciar se somos ou não professores afetivos, receptivos e que consideram as emoções de nossos alunos. Ora, um professor que se esforça para manter boas relações na sala de aula, em todos os aspectos aqui discutidos, produz um efeito enorme na auto-estima dos seus alunos, pois eles percebem que o professor está interessado no seu sucesso. Por outro lado, aulas mal planejadas e sem afetividade levam o aluno ao fracasso e, por conseqüência, à baixa auto-estima.

Concordamos com Leite e Tassoni (2002, p. 136) quando afirmam que: “as relações de mediação feitas pelo professor, (...) devem ser sempre permeadas por sentimentos de acolhimento, simpatia, respeito e apreciação, além de compreensão, aceitação e valorização do outro”.
Por “acolhimento”, referimos aos sentimentos que expressam ações de acolher, recepcionar, dar atenção, considerar e, até mesmo, abrigar e agasalhar com respeito. Por “aceitação e valorização do outro”, compreendemos os sentimentos ligados à aceitação do aluno, tal qual ele é, aliado a ações que valorizem suas tentativas de acertos, seu ritmo e suas construções de aprendizagens.


professor se você encaixa nesta categoria,, parabens pelo seu desempenho, e pelas marcas que ficarão para sempre registrada em cada mente.

Um comentário:

  1. eu tenho um artigo de opinião e gostria de postar nesse blog, como eu faço? por favor.

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