Grupo de Tai Chi Chuan, portadores de autismo em graus diversos. *********** Blogagem coletiva Tema: Inclusão de deficientes físicos/portadores de necessidades especiais na sociedade. Mais informações no blog da querida amiga Pandora, clique aqui! ***************** Conto um "causo"... Lembro-me quando era ainda adolescente... Casa de cultura - Ipiranga, São Paulo. Dia de show beneficente, o destaque era um grupo de cantores deficientes visuais. Chega uma apresentadora toda sorridente. E começa um discurso longo e chaaaaato, piegas até a raiz dos pentelhos. Elogia os artistas, "estes deficientes são heróis, estão aqui para provar que o deficiente também pode, que mesmo sofrendo tanto e tento uma vida tão amargurada ainda conseguem sorrir e cantar"... E toma elogios aos pobres e sofridos deficientes desbravadores, batalhadores, animadores, das dores, sei lá mais o que. De saco cheio, uma integrante do grupo de cantores deficientes-desbravadores-batalhadores-etc-das-dores, microfone em mãos, disse: a senhora poderia interromper esta humilhação pública para a gente poder cantar? Nosso problema é nos olhos, não na garganta, a gente não vê a flor, mas cantá-la, podemos sim! Esta menina autista estava no meio do grupo de dança Yosakoi (Yosakoi, a dança das "castanholas" japonesas, leia/releia o post que fiz anteriormente.). Igual às outras crianças, ela se esforçou e ficou feliz com sua arte. Nem mais, nem menos, ela é uma criança esforçada. Neste dia aprendi que: - é muito humilhante ser visto como "coitadinho, menos". - ser visto como herói , por superar obstáculos - cansa. - é chato que lhe atribuam o papel de "exemplo de vida" quando muitas vezes apenas tenta-se viver melhor. - deficiente não é coitadinho e sim tem uma condição diferente de vida, com necessidades próprias. Nosso papel é compreender o modus operandi da vida do outro, que sempre será diferente da nossa, não importa que condição temos. E facilitar, melhorar para todos (exigir rampas de acesso, respeitar vagas de portadores de deficiência em supermercados, etc) Cada um tem suas deficiências, necessidades e eficiências. Não devemos é tornar tudo mais difícil... mesmo quando queremos ajudar. *********** Me lembro do que diziam alguns amigos portadores de necessidades especiais que faziam faculdade comigo. Sempre me reportavam que o "preconceito às avessas" cansava tanto ou mais que o preconceito direto. Para eles, terrível era sair às ruas e ver gente olhando "com cara cheia de ternura e carinho, mãos em tchauzinho e sinais de positivo com a cabeça". Olhares marejados de piedade aos pobres miseráveis deficientes. Gente que quer expressar sua simpatia e compaixão, trazem docinho e flor ao vê-los na rua, que chora emocionada e consternada quando eles passam. E quando eles conseguiam subir uma calçada, por exemplo, sempre vinha um sem-noção que parava e começava a aplaudir, gritando "não desista, você chega lá". Vida que vira um Teleton/Criança Esperança. Era preciso contar até mil ao ouvir conversinhas do tipo: nossa, você é paralítico, está na cadeira de rodas mas sorri! E eu aqui, "perfeito", só reclamando da vida. Você é ma-ra-vi-lho-so e outras palavras elogísticas heróicas... Ah, claro! Sem esquecer os que vinham consolar e justificar: aguente firme, meu irmão, isso é resgate da outra vida que você foi muito mal e agora está pagando! Ai dos meus amigos, quando reclamavam aos piedosos, sempre ouviam: estou querendo ser legal com você, deficiente. E você acha ruim, seu ingrato? Este tipo de postura muitas vezes é mais excludente que o preconceito direto, por humilhar. Ninguém gosta de ser visto e tratado como menos, inferior, infantilóide. Fora que deficiente não é dublê de Jesus: eles também tem bons e maus sentimentos, bons e maus momentos, como qualquer pessoa. O que eles mais desejavam, como deficientes? Que fossem tratados e respeitados como qualquer cidadão, independente de raça, cor, condição econômica e física também. Que os ditos "normais" os olhassem na alma, a fim de entender que são gente como qualquer gente neste mundo. Legal é ser respeitado, não "amado" como se fossem cachorros fofinhos. E claro, condições sociais para viver de maneira adequada e independente, poder exercer sua cidadania, participação em sociedade. Apenas isso, o resto eles se viram. E quem realmente os ajuda é aquela pessoa que naturalmente faz isso com qualquer um. Se aproxima num sorriso, age normalmente e bota a mão na massa. Pessoas que fazem o bem por ser a natureza pessoal delas e não fazem teatro de suas boas ações. Mais um grupo de pessoas com deficiências diversas - autismo, visão, esquizofrenia, etc. encontram equilíbrio e paz na suavidade do Tai Chi Chuan. Gosto dessas apresentações, acontecem por todo o Japão. Atividades e temas diversos, integração. Esta é na estação de trem JR Anjo, aqui em Aichi. Estão lá, deficientes e não-deficientes unidos e compondo um único espetáculo. Nada de anúncios do tipo: "olha ai os deficientes, os coitados" ou coisa parecida. Simplesmente fazem sua apresenteção e saem orgulhosos por terem feito tudo direitinho. Assistir chorando? Só se for pela emoção da apresentação em si, não por eles, que estão atuantes na sociedade, eficientes. A apresentação foi perfeita. Claro, porque seria diferente? Eles não são diferentes de mim nem de você. Ajuda muito mais quem briga por uma entrada especial para deficientes, placas e papéis em braile, sinal sonoro nos semáforos do que afaguinhos melosos |
“A EDUCAÇÃO SOZINHA NÃO TRANSFORMA A SOCIEDADE, SEM ELA TAM POUCO A SOCIEDADE MUDA.” Paulo Freire.
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
LUTA CONTRA O PRECONCEITO
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